sábado, 30 de janeiro de 2010

Boneca de Pano

Por Ricardo Casmurro & Raguinm

A boneca de pano está sentada na prateleira
Em meio a tantas outras bonecas
Outrora fora a favorita de uma menina pequena
Mas agora é esquecida em seus remendos

A Boneca que nunca teve ou terá a filha da lavadeira
Esquecida pela dona, vive de sonecas (e choros calados)
Televisão na sala, desenho de amor, cena obscena
Por que os anos passam sob a canção dos esquecimento

A boneca de pano
Tão triste, levanta com a mágica vida dos raios de sol
E vai buscar no mundo
Alguém que queira brincar com uma bonequinha, tão velha e tão só...

Ela salta pela janela aberta,
Caminha deslumbrada pelo jardim,
E anda por entre a gente na rua dela
poucos passam e ela se sente assim...
Tão livre, tão bem,
Tão livre, Tão bem...

E a boneca de pano anda pela rua, pela avenida
Carros, homens, mulheres, crianças
Todos a olham, mas não querem brincar com a bonequinha
Andam com olhos tortos, afastam-se de suas rmendas

Ah, mas a boneca de pano
Não pode falar com as menininhas que passam pela rua
As mães as afastam
E a bonequinha agora entende o que é estar viva como a lua

E mesmo fora da casinha, esquecida na prateleira
Se sente sozinha, a vida com a dor a presenteia
E a noite vai chegando...
Caindo sobre a bonequinha de pano
E os olhos não são mais de medo
Eles agora a olham com interesse
Tentando olhar sob seus remendos, agora tão curtos
Para aqueles olhos cruéis, selvagens e sórdidos
Que decifram as curvas da bonequinha
Que foge o quanto não pode
Se serpenteando pelas mãos que a tocam...

E mesmo fora da casinha, esquecida na prateleira
Se sente sozinha, a vida com a dor a presenteia

E a penumbra cobre o rosto triste que cabisbaixo retorna ao exílio de sua prateleira
E anda pelojardim, entra pela janela, sabe pela cama, guardando-se na casinha
No dia seguinte, ela de novo e de volta sentada lá estará, boneca de pano, para a faxineira
E a boneca de pano, descosturada e suja, será brinquedo velho e inútil que ela jogará na lixeirinha

Sobre: Um conto sobre a alienação, o afastamento, o estranhamento e a malignidade que permeiam o mundo. também, em certas partes, uma metáfora quanto ao preconceito de quem rompe, o desprezo por quem se fode e a opressão sobre quem nasceu "sem um pênis".

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