terça-feira, 2 de agosto de 2011

Este Cadáver

Por Ricardo Casmurro

Muitos foram os anos que pasaram juntos
Muitos foram os anos, os filhos, os assuntos
As noites, os sexos, as situações, as dores
As brigas, as trsitezas, as angústias, os rancores

Essa foi nossa vida juntos...
E assim será!

jah não consigo mais manter acesa a chama
Da vela miúda que um dia aqueceu o que pôde a vida
E todo nosso ardor foi alguma coisa
Que não podia deixar passar
A ignorância de um, a passividade de outro
Tanta dor sofrida em nome de algo fadado à desgraça
Não perdemos o que tínhamos
Nunca tivemos nada
E fomos ambos imbecis demais para aceitar
Nunca houve esperança para este lar

Tudo sempre foi tão belo
que sempre nos deixou enjoados
E quando todo o belo se tornava igualzinho tão feio
Enchíamos nossos lixos de vazios engradados
Chorávamos e nos destruíamos toda noite embriagados
Soluços sempre misturam-se com lágrimas
Nossos rostos vermelhos enquanto transborda o desespero
De perder tudo que se tinha
ou de se dar conta de que nada nunca teve

A alma mantida por uma mentira
O ardor corrompido pela sua própria essência
Não há e nunca houve qualquer saída
Sempre quisemos achar o sentido de nossa vivência
Faltou notar que era servir de alimento aos vermes

Toda a marca macabra do nosso medo
Marca a pele e toma o desejo
Sempre estivemos perdidos enquanto havíamos nos encontrado
E a traição nunca bastou
Mesmo para animar o cadáver que arrastamos
Toda, por toda vida nos forçamos
A viver este teatro de sorrisos forçados e angústias caladas
Alimentado pela riqueza desta opressão
A resignação apaixonada em nome de uma moral inútil
Arrastando este cadáver pesado em nossas costas
Buscando manter vivo algo que há muito já morreu
Já não consigo mais fingir a animação
Já não consigo mais acreditar no que nunca se viu
já não consigo também mais saber o que é meu
já não consigo mais dividir a cama
já não consigo mais manter acesa a chama
Da vela miúda que um dia aqueceu o que pôde a vida
Pois nunca tivemos nada
E fomos imbecis demais para aceitar

Essa foi nossa vida juntos...
E assim será!

Sobre: Relacionamentos monogâmicos tendem a dar problemas grandes, especialmente quando são permeados pelo amor romântico. As expectativas postas no casal e na sua relação são obviamente muito superiores às que a relação pode de fato conceder. Essa relação não va eliminar todo o sofrimento da vida, nem dar conta de suas crises psicológicas. Uma relação é um suporte, mas não dá conta de nossa totalidade.
A relação monogâmica é pior nesse sentido por que ela exige das pessoas envolvidas o controle das ações e envolvimentos do outro com terceiros, afim de evitar qualquer envolvimento potencialmente grande, já que a afetividade para com outros é, na lógica dessa relação, uma ameaça à sua própria existência, já que não adimite multiplicidade de parceiros. Isso reforça a lógica das exigências enormes em relação à relação, já que ela tem de dar conta de um conjunto de expectativas muito grande.
Ao mesmo tempo, o prolongamento da relação faz com que se torne mais difícil viver sem ela, tanto por que nos acostumamos quanto por que criamos vínculos materiais, sociais e psicológicos que passam a fundamentar a nossa vida, especialmente na co-abitação. Por isso, quando se percebe que essas expectativas não podem ser cumpridas, oq demora tempo, especialmente para os que acreditam mt nelas, fica já muito difícil de desfazer a relação. As pessoas então, em geral, tentam arrastaro cadáver da relação à frente na tentativa de fazê-la voltar a ser o que era ou se tornar algo que não é. O que eventualmente acaba em frustração.
Propositadamente, eu deixei a coisa aberta o suficiente pra pessoas que simplesmente estão em relações conflituosas e que passaram muito tempo de suas vidas tentando acreditar nela e apostando inutilmente suas fichas numa recuperação ou coisa parecida... Algumas pessoas que eu conheço nessa situação....
Antes que perguntem: não, eu nunca passei por isso.
Desenterrei esse poema de mts anos atrás, aliás.

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