terça-feira, 8 de junho de 2010

Neire (Flor da Cajuína) (Uma Noite Fria de Junho)

Por Ricardo Casmurro

Calor, Barracas, Começo
Cruzamento de avenidas distantes
O mundo reunido e dois são o foco
Uma história no porvir

Longe desse amargo berço,
Palavras adocicam os olhos
Como o ouvido de revelações
Intimidade, conforto, acolhimento

Simpatia, comunhão
Atrasada pelas léguas turvas
A alma acha o caminho
Imagens estáticas põem o coração em movimento
Marcam a alma
Que pode haver mais perto da perfeição?
Ainda não achei

A Flor da Cajuína contém minha alma
Esguia, doce, lisa, amorenada, apimentada
E todos sabem como gosto de doce!
Depósito dos sonhos, musa
Ouvinte da brutalidade que me encanta
Carrega as sementes da primavera do mundo
E as da minha salvação

A Flor aprendeu um caminho novo
Aceitar o que por aí se esconde e reprime
Eu, por outro lado, nada guia
Um mero seguidor dos laços que me arrastavam
Para dentro da flor de encanto

Um laço feito de aço
Que carrego e continuarei carregando
Mesmo que ele arda como brasa
Ao lembrar do que perdi

Não mais continuarei sonhando
Mas guardarei a memória dos sonhos
Mesmo que transborde dos olhos
O amor de que lhes enchi

Me escapou das mãos a flor
Me escapou da vida a ternura
Desabo, desabo, mais um vez
Como quando a tentaram prender

Estarei sempre com as pontas dos dedos sobre sua pele
Como numa noite antiga
Estarei sempre cobrindo-a contra o frio
Mesmo que seja a última coisa do último dia

Estarei sempre lembrando do sotaque, da voz,
Que ecoa como música
Os olhos de vidro, o cabelo desarrumado
O Encanto mais arrebatador

Quis que o sonho real durasse para sempre
Mas o para sempre não existe
Nem a viagem, nem a moradia
Embora a carta vá estar sempre lá

Se existem algos que valem a pena
Dos que mais valem, certamente, é a Flor
Muito embora, como no início,
O mundo esteja ao redor
Mas só dois importa
Na noite em que levou, o vento,
A flor que me colheu
Depositária dos sonhos, musa
Leva-os e à ternura
Do amor teu
Numa noite fria de junho
Numa triste noite fria de junho

Sobre: Me dei ao direito de falar do meu amor. Esse é o primeiro poema. Embora não esteja muito bom, é meu choro em palavras.

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