sábado, 25 de julho de 2009

Sozinho na Chuva

Por Ricardo Casmurro

Eu ouço o teu suspiro
Súbito
Guardado aguardando sem brilho
Sei que todo o cuidado
Há tomado
Para que ninguém pudese ouví-lo

Estou Caminhando sozinho na chuva
procurando alguém com quem sentar e beber
Passo pelos bares cheios e vazios ao mesmo tempo pra ver
Pessoas confraternizando sozinhas todas juntas

Há, entre nós, essa distância
Essa suspeita
Milímetros desmedidos nos afastam
Eu sei que ao mesmo tens o medo
Do apelo
Proteger-se do prototípico Protetor é: "não!"

Se não poderemos nos olhar, se não poderemos nos ter
Está tudo em termos de estar lá e todos tempos não os ver
Sinto falta de você que nunca tive, de tudo que podríamos ter sido
Solidão pode ser o peso do limite, que separe sua vida do meu caminho

Olhando para mim com olhos desconfiados
Não olha meu espírito
Não vivido
Não vívido
Caminho que não trilho
Serei feliz se, o medo, um dia, desafiá-lo!

Estou Caminhando sozinho na chuva
procurando alguém com quem sentar e beber
Passo pelos bares cheios e vazios ao mesmo tempo pra ver
Pessoas confraternizando sozinhas todas juntas


Estou caminhando sozinho na chuva
Sozinho na Chuva...
Bares cheios e vazios ao mesmo tempon pra ver
Bares cheios e vazios...

Estou Caminhando sozinho na chuva
procurando alguém com quem sentar e beber
Passo pelos bares cheios e vazios ao mesmo tempo pra ver
Pessoas confraternizando sozinhas todas juntas

Confraternizando sozinhas
Confraternizando sozinhas
Todas juntas,
Todas juntas,
Todas juntas,
Sozinhas na Chuva

Sobre: Que sensação você tem quando tem contato com alguém que não conhece? Identificação ou desconfiança? Não confiamos uns nos outros, tememos uns aos outros, vemos o outro como a negação de nós mesmos... Só passamos a nos deixar conhecer e nos deixar envolver pelas pessoas quando elas nos demonstram serem confiáveis para que possamos superar essas barreiras que criamos entre nós. O problema é que nós precisamos uns dos outros... quantas coisas maravilhosas poderíamos ter vivido com pessoas que nos aparecem e que nós trabalhamos para manter distância a princípio, se elas tivessem entrado em nossas vidas? Quantas pessoas encontramos no cotidiano e que poderiam ser muito para nós? Pessoas que encontramos na rua, nas quais esbarramos saindo do metrô, com as quais dividimos acento no trem... ou até que são mais próximas, que trabalham em outra seção da empresa em que trabalhamos, que moram na outra rua do nosso bairro, etc.
Os seres humanos são animais sociais e constroem-se a partir da interação com outros, fazendo dos outros um complemento de si mesmos e de si mesmos um complemento dos outros. Mas algumas estruturas sociais, como a nossa, desenvolvem, para isso, uma forma de enfrentamento e competição entre nós, uma postura de permanente entrincheiramento emocional, o permanente medo paranóico de ser descoberto e de ser envolvido. Por que, para nós, envolver-se é estar vulnerável aos outros, e não estar mais forte por que eles podem apoiá-lo.
Esse poema começou quando eu estava pensando ontem em como que somos todos tão divididos. Especialmente por dois casos que vivi recentemente, de pessoas que queria conhecer, que queria ter contato, aprofundar uma relação de qualquer tipo, mas que, em função dessa permanente desconfiança em que vivemos, fugiram de mim. Assim como devem ter fugido de pessoas aleatórias desse mundo com as quais devem ter tido contato durante a vida...
Para outras pessoas esses casos seriam desprezíveis, afinal, não cheguei a conhecer de fato as pessoas... mas eu não penso assim. Não deixo de me importar por causa disso. São pessoas, são importantes para mim e me sinto triste de não poder me envolver com elas mais profundamente. Sinto falta do que não tive. Afinal, nesses suspiro súbito que todos temos, criados por estes milímetros desmedidos que determinam as nossas formas de nos afastarmos, de nos dividirmos, sentimos uma falta da qual temos medo e que, para evitar que alguém venha saná-la, dizemos a esse alguém: "não!".
Não se trata aqui de romance. Se trata de pessoas em geral, de como lidamos com elas. De como estamos todos confraternizando sozinhos todos juntos, confraternizando sozinhos na chuva.

Nenhum comentário: