quinta-feira, 12 de maio de 2011

Molécula

Por Ricardo Casmurro

São eles que se afastam de mim ou sou eu que me afasto deles? O que explica essa obsessão maldita, essa corrente apertada, esse ar que me falta?

Acho que a resposta para a primeira questão está nos dois lados; tanto eu me afasto quanto eles se afastam e por eu me afastar se afastam e por se afastarem, me afasto.

Seriam os milhõesde códigos que batalhei para desnaturalizar que agora, como um paradoxo correspondente, voltam contra mim pressionando na forma de uma parede (Wall) que se aproxima para partar, constranger e me afastar e que me machuca ao toque? Estariam as correntes que prendem outrois se esgueirando como serpentes à minha direção? Estariam os códigos, fórmulas, gramáticas, revoltando-se contra minha vista de que isso são e usando as pessoas, transformando-as em agentes seus para me eliminar de seu mundo (im)perfeitamente arquitetado?

Claro que o espírito de minha época não gosta de mim e que o espírito (des)humano da trama tem sua dinãmica para se impôr e aos subalternos que a continstituem (como a fábrica que destrói o corpo e a mente do operário que a constitui; ou o Deus que ameaça, traumatiza e aterroriza o fiel que o inventou) - mas isso por si só não é tudo.

Existe também, em meio ao oceano, as moléculas de água, que se comunicam, agregam e movimentam com as suas parceiras vizinhas - e a fuga de algumas delas pode ser importante; não para o oceano, mas para as moléculas daquela confraria molecular.

E o que faz uma molécula de água fora do oceano?

Acho que posso culpar todo o peso que carrego nas costas passadas, resgatar como meu próprio ser é uma prisão para mim mesmo - como sou corrente e acorrentado, como sou o mago e o paradoxo, como sou fato social e indivíduo, como sou ideologia e interesse de classe, como sou Neo e Smith. Mas sou tudo isso para mim mesmo enquanto sou apenas mago, indivíduo, interesse de classe e Neo, no mundo.

Parece que minha vida vida foi uma música, provavelmente de Rock, mas daquelas progressivas velhas, com mudança de clima e de ritmo... uma música cantada pelo outros na qual tentei tomar a voz por algum tempo, nos minutos (segundos?) mais legais da música; umacação que parece ir para onde não vai; uma canção que é, ao final, uma maldição.

Hoje, notas (cordas) me amarram, em calam e me entregam a... ninguém?

Feitiços povoam-me de impossibilidade e pessoas faltosas, como se alguém no comando da hierarquia da existência quisesse me punir por ter afetado sua autoridade. O problema está em que não acredito em feitiços e nem em Deus :/

É; assim parece que essa alegoria mística é inútil e me sinto, de certa froma, como se fosse; mas o que faz diferença é que estas coisas parecem isso, "coisas", como se não fossem composições de afatores e de fenômenos - dá pra entender por quê Deus está em tudo (e/ou o Demônio?)

Mas como posso me libertar da prisão amarga da fuga?

Não basta ver no mundo fora de mim as condições que me aprisionam, mas de me localizar nelas e ver que posso eu fazer.

E aí é que está a pergunta; sem resposta.

Sobre: Solidão e não saber como revertê-la.

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